domingo, 30 de junho de 2013

Sem incluir o pobre no orçamento a fome não terá solução”, diz Lula

lula Lula discursa na abertura oficial do encontro de alto nível sobre segurança alimentar na África - Foto: Ricardo Stuckert/Instituto Lula

Ex-presidente defendeu que a erradicação da fome tem que ser transformada pelos países africanos em política de estado

No discurso de abertura do encontro sobre segurança alimentar na África, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva defendeu a importância do combate à fome e à pobreza ser permanente e encarado como política de estado, e não apenas um enfrentamento voluntário ou eventual. “A fome não será erradicada se os pobres não forem incluídos no orçamento do governo.  Estou convencido que o fim da fome é possível se for uma política de Estado, e se não for tratada como um programa temporário ou  eleitoral. Também é importante o comprometimento da sociedade civil para esse processo ser bem sucedido. Estou certo que todos os países da África e do mundo podem erradicar a fome se eles incluírem o pobre no orçamento nacional. Apenas crescimento econômico não é suficiente. “

O ex-presidente abriu o evento organizando pela União Africana, pela Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) e pelo Instituto Lula em Adis Abeba, Etiópia. O objetivo do encontro é trocar experiências entre o Brasil, países africanos, e também a China e o Vietnã, no combate à fome e ampliação da produção agrícola.

“Queria deixar claro aqui  que não pretendo dar lições para que vocês apliquem exatamente o que aconteceu no Brasil. Muito pelo contrario. Cada política tem que levar em conta a realidade política, cultural, correlação de força e sobretudo a organização da sociedade de cada país”, afirmou Lula.

O ex-presidente defendeu que não se pode esperar o crescimento econômico para distribuir riqueza, mas que a renda seja distribuída ao mesmo tempo em que a economia cresce. “Tenho certeza de que todos os países africanos e do mundo podem acabar com a fome se incluírem os pobres no orçamento de estado. O crescimento econômico sozinho não é suficiente. ”

Lula comentou as críticas habituais que programas como o Bolsa Família sofreram durante sua implantação no Brasil. “Não foram poucas as acusações e debates que tivemos que fazer para implantar o Fome Zero, que funcionou como um guarda chuva para vários outros programas.  Adotamos várias políticas, mas tivemos que convencer o governo – não é fácil convencer o ministro da Fazenda – de que dar dinheiro pra pobre não é gasto, é investimento. “

O impacto do combate à pobreza para o estímulo do crescimento econômico foi ressaltado: “O conjunto de políticas públicas voltadas para uma parcela pobre da população fez com que eles entrassem no mercado.”

Sobre agricultura, o ex-presidente defendeu a importância da convivência do agronegócio com a agricultura familiar e tradicional e de aumentar a produtividade agrícola. “Precisamos abolir o conceito da agricultura da subsistência. Precisamos colocar na cabeça das pessoas a necessidade de produzir mais, a pessoa ter acesso à tecnologia, a possibilidade de aumentar sua produtividade por hectare. Vencer essa ideia de que ele precisa produzir apenas para comer. Ele precisa produzir para comer e sobrar para ele ter dinheiro para ter acesso a outras coisas.”

Lula também ressaltou a importância da integração das políticas sociais e ações na agricultura com políticas de desenvolvimento e infraestrutura, como o PIDA, o Programa de Desenvolvimento de Infraestrutura na África proposto pela União Africana para integrar o transporte e a produção e distribuição de energia na África. “É nisso que os países mais ricos podem contribuir. Financiando a infraestrutura porque o crescimento econômico é fundamental para acabar com a miséria, se o crescimento for distribuído.” A falta de energia elétrica é um problema presente em muitos países africanos.

Sobre as recentes manifestações que tem acontecido no Brasil, Lula comentou que “nos últimos 15 dias vocês ouviram pela TV e leram pelos jornais muita movimentação no Brasil: passeatas, protestos e queria dizer a vocês que feliz é o pais que tem um povo que tem liberdade de se manifestar. E mais feliz ainda é um pais que tem um povo que se manifesta e que vai as ruas querendo mais.” O ex-presidente elogiou a atuação da presidente Dilma na sua relação com as manifestações pacíficas. “As pessoas querem mais no Brasil, mais transporte, mais saúde, mais salário, questionar o custo da Copa do Mundo. Acho que isso é saudável para um país que vive apenas 20 e poucos anos de democracia contínua.”


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