quarta-feira, 29 de maio de 2013

Uma nova dobradinha no PR?

A notícia de que o deputado federal Ratinho Junior (PSC) assumirá a Secretaria de Desenvolvimento Urbano do Paraná, SEDU, nas próximas semanas fez-me lembrar da última vez que um governador paranaense indicou para esse cargo um político com densidade eleitoral na capital. Foi no final dos anos 80. O governador era Álvaro Dias e o secretário nomeado fora o então ex-prefeito de Curitiba, Roberto Requião. Requião tinha sido prefeito da capital entre 1985 e 1988. Em seguida, com a densidade política alcançada no interior do Estado entre 1988 e 1989, conseguiu se eleger governador do Paraná pela primeira vez em 1990. A Secretaria de Desenvolvimento Urbano é a responsável pela distribuição de recursos e direcionamento de projetos a prefeitos paranaenses, por isso muito cobiçada por políticos com interesse em disputar eleições regionais.

Requião tinha sido eleito prefeito de Curitiba, em 1985, com 45,4% dos votos válidos. Naquela época não existia segundo turno. Ratinho foi o mais votado no primeiro turno de 2012, com 34,0% de votos válidos. Se não houvesse segundo turno, Ratinho seria prefeito hoje. A considerar as primeiras declarações do atual deputado, os objetivos dele e do então ex-prefeito de Curitiba são similares: ganhar densidade eleitoral no interior do Estado. Ratinho já disse que sonha em ser governador do Paraná. Para tanto, um caminho é ser o secretário que faz o contato direto com os prefeitos. A questão é saber se os ganhos em participar do governo Richa serão maiores à imagem de alternativa política que vinha caracterizando o deputado até então.

Um dia Roberto Requião já foi Secretário de Desenvolvimento Urbano de Álvaro Dias

Nos anos 80 Requião e Alvaro Dias pertenciam ao mesmo grupo político. Ambos do PMDB. Alvaro Dias deixou o partido depois que saiu do governo. Não é o que acontece com Beto Richa e Ratinho Jr. Além da não pertencerem ao mesmo grupo, o partido de Ratinho Jr. vem disputando eleições para prefeito de Curitiba na oposição ao grupo de Richa. Em 2004 o PSC teve candidato próprio – primeira eleição de Beto Richa como prefeito de Curitiba. Em 2008 o PSC apresentou o candidato a vice da candidatura do PT, principal oposição à reeleição de Richa. Em 2012 foi o candidato mais identificado como oposição ao concorrente apoiado por Beto Richa. Portanto, Ratinho Jr. terá um problema a enfrentar: provar aos eleitores que não mudou de lado. Ainda que seja um bom secretário, se não conseguir mostrar independência política, os efeitos positivos podem ser neutralizados pela desconfiança do eleitor em relação às suas escolhas políticas futuras.
Que vantagem teria o deputado em aceitar os riscos políticos individuais e assumir uma Secretaria no governo Richa? A principal delas é que como secretário poderá substituir a imagem de político inexperiente pela de bom administrador. Talvez ele tenha percebido que a “juventude” é um argumento razoável para eleger deputado, mas não ajuda muito em disputas majoritárias. Se conseguir fazer um bom trabalho como secretário de Estado, atendendo as demandas dos prefeitos e formando uma rede de apoiadores ao seu projeto político, poderá concluir o período no governo com um saldo positivo. Embora, para isso, dependa de uma avaliação geral sobre o desempenho do governo como um todo.
Para além dos projetos individuais, a decisão de Ratinho Jr indica novos arranjos políticos no Estado. Ao optar pela secretaria de Richa, o deputado se distancia definitivamente do governo federal, do qual tinha participado como integrante da bancada de sustentação no congresso. Se Ratinho Jr faz parte do governo do Estado, tem grandes chances de apoiar a candidatura do PSDB à presidência da república e Beto Richa à reeleição em 2014. Do outro lado estarão Dilma, PT, Gustavo Fruet e a oposição ao atual governo do Estado.
Já pensando em 2014, se o cenário não sofrer grandes alterações, quem mais ganhou com a entrada de Ratinho Jr no governo foi o próprio Beto Richa. Provável candidato à reeleição, ao neutralizar o potencial de votos de Ratinho Jr em uma disputa na qual poderia ser a terceira via, Richa dá um importante passo para polarizar a disputa. E, em disputas polarizadas, o candidato à reeleição sempre sai em vantagem. Porém, ainda é muito cedo para qualquer jogo de adivinhação política. Até mesmo sobre se as coincidências entre Richa/Ratinho e Alvaro/Requião continuarão. Vale lembrar que Requião foi eleito governador depois de dois anos na secretaria, quando não existia a possibilidade de reeleição. Agora, a situação é outra.

Fonte: http://www.blogempublico.com/

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